Na origem, as festas juninas estão ligadas à celebração das safras, portanto, nada melhor que utilizar alimentos regionais e da estação nos quitutes destes festejos. Na Região Sul do país, o pinhão é sinônimo de festa junina. Os meses de junho e julho marcam a época de amadurecimento das sementes da araucária, que há séculos são consumidas pelos povos indígenas e até mesmo por animais. “O pinhão incorporou-se à culinária gaúcha e sulista, e é muito consumido, especialmente cozido ou assado. Sendo um ingrediente neutro, ele é muito versátil, e há muitas formas de aproveitá-lo, tanto em pratos salgados como doces, basta usar a criatividade”, diz Angélica Araújo, professora de Gastronomia da UniRitter.
Rico em amido, o pinhão é uma excelente fonte de energia, sem glúten e com baixo índice glicêmico. “Em quantidades iguais, ele tem as mesmas calorias do arroz branco, mas é mais nutritivo, contendo muitas fibras e proteínas. Pode ser um bom substituto da carne em pratos como entrevero ou mesmo no hambúrguer. E complementa a farinha em preparos de bolos”, exemplifica Angélica. Segundo ela, o uso de ingredientes nativos é uma tendência culinária, inclusive na alta gastronomia. “Sempre instigamos os alunos a conhecer produtos e produtores locais, e famílias extrativistas, como é o caso com o pinhão. É importante exaltar os produtos regionais e conhecer bem sua procedência, para respeitar, inclusive, o período de defeso de algumas espécies”, salienta a professora.
A araucária está ameaçada de extinção e os pinhões só podem ser coletados, já caídos ao chão, em meados de abril. Mas o consumo só é recomendado após a maturação: antes disso, o pinhão verde é tóxico. Além de contribuir com os extrativistas que vivem da coleta da semente, sua inclusão nas receitas tem vantagem econômica, já que está em plena safra na época dos festejos juninos. Para quem gosta de petiscar, o pinhão puro ganha ares gourmet ao ser temperado e salteado com outros ingredientes, como manteiga, mostarda, alho, alecrim ou pimenta. Dependendo da combinação escolhida, pode harmonizar com diferentes vinhos.
O pinhão também pode ser complemento de receitas juninas típicas: triturado e tostado, vai bem sobre o arroz doce ou a canjica. Ou ainda substituir ingredientes tradicionais dos arraiais de outras regiões, como o amendoim. Angélica nos ensina uma receita de pé-de-moça, a versão mais cremosa do pé-de-moleque. Confira abaixo!
Pé-de-moça com pinhão
Ingredientes:
500g de pinhão
200g de açúcar
½ lata de leite condensado
20g de coco ralado
Manteiga (para untar a forma)
Modo de preparo:
1- Cozinhar o pinhão com água na pressão por 40 minutos.
2- Retirar a água, descascar e triturar o pinhão no processador.
3- Aquecer uma panela, acrescentar o pinhão e dar uma leve dourada, acrescentar o açúcar e misturar até incorporar no pinhão. Então, quando formar uma calda é hora de colocar o leite condensado, misturar bem e adicionar o coco ralado. Ao soltar do fundo da panela, pode retirar do fogo e colocar numa forma untada com manteiga.
4- Após resfriar, é só cortar.
O pinhão
Semente da pinha de araucária, o pinhão é um alimento típico do sul da América do Sul. No Rio Grande do Sul, é um fiel aliado dos gaúchos durante as épocas mais frias do ano. O início da safra, em meados de abril, é definido desde 1976 por portaria do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que protege a araucária, árvore nativa do bioma Mata Atlântica, da exploração predatória, pois é uma espécie ameaçada de extinção.
Segundo a Emater-RS, a preservação da araucária é fundamental por motivos ambientais, econômicos e culturais. Primeiro, porque é uma planta emergente do dossel da Mata de Araucária; isso significa que é uma espécie indicadora da qualidade e da preservação desse ecossistema florestal. Também é um alimento muito demandado pela população da Região Sul, de modo que sua venda configura fonte de renda das famílias extrativistas. Por fim, o pinhão faz parte da cultura gaúcha, estando presente em receitas culinárias e em festas que celebram sua safra.
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